segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Lições finais e preciosas de Mediunidade (Parte III)

Parte 3 e Parte 4 da entrevista

Educação de crianças médiuns, obsessão, educação da própria mediunidade, o dom da gratuidade, viver sem medo e no mundo, são as lições que finalizam essa entrevista com Pedro Siqueira:

11. Como falar com as crianças médiuns sobre a mediunidade delas? (uma grande lição aos pais espíritas e não espíritas) “Eu conversaria com ele [seu filho] a respeito de visões, de mensagens, de visões dos Espíritos, do mundo espiritual de uma outra forma, sem essa coisa tão dominante no preto-no-branco de não pode falar, isso não é assunto. Conversaria com ele. Mas, também não gostaria que ele saísse por aí falando o que ele visse, porque choca as pessoas e a ideia não é essa. Mas aí, isso conversado fica melhor na cabeça da criança do que como eu sofri a coisa.



  • Nada a acrescentar. 
12. Sofrer sistematicamente ataques de entidades demoníacas semeando discórdia na família, doenças no corpo e falências na vida, pelo simples fato de ajudar aos outros.

  • O Espiritismo confirma a existência de Espíritos devotados ao mal, mesmo até a militância contra o bem. O que fazer? Continuar no bem. Essa persistência malévola é sempre temporária, dia vem que o malfeitor se converte em auxiliador pela força do exemplo. O mal não é uma força ativa que tem poder para perpetuar ações cruéis, é um mal-estar temporário de uma situação complicada que está em busca de reequilíbrio. Não raras vezes, parece ser mesmo o bem se contorcendo para nascer. 



13. Não precisa estar completamente imerso na igreja como instituição, abdicando de todos os papéis sociais como operário, esposo e pai para deixar manifestar os dons do Espírito Santo.
  • Não, não precisa. Mas, estar junto aos propósitos do bem, junto a uma comunidade (igreja) que segue a trilha do bem, como Pedro Siqueira faz, ajuda muito a bem conduzir estes dons. 



14. “Lá na minha adolescência meu anjo falou comigo e disse: ‘Olha, você vai ter uma profissão, você vai se sustentar, porque isso [o dom das revelações] é gratuito. Deus te deu de graça, você vai dar de graça. Então, isso não pode ser cobrado em hipótese nenhuma.
  • Emmanuel, mentor espiritual ou anjo da guarda de Chico Xavier, não diria diferente. 


15. O anjo da guarda não é homem. É um outro tipo de ser. Não evoluíram da raça humana.
  • Para o Espiritismo, o espírito começa seus estágios no átomo, vai ingressando nos diferentes reinos aprendendo lições que lhes são próprias, até atingir a graduação dos anjos. Essa escalada tem um sentido e não tem volta. Há liberdade relativa entre nossas existências a ponto de nos ser permitido degustar o que não é bom, e um determinismo divino implacável: todos deverão ser felizes. O homem pode se animalizar? Não no sentido físico, mas no moral, os exemplos se proliferam. O animal um dia será anjo? Pode soar estranho para muitos, mas acredito que os ecologistas aplaudiriam essa ideia, se é que já não consideram a superioridade dos animais em muitos aspectos. 



16. Um grande medo? “Eu não tenho medo, Jesus repetiu mais de mil vezes no evangelho que não tenham medo.”
  • Espíritas, aprendamos com isso!

17. Pedro Siqueira por Pedro Siqueira: “Um homem normal que está tentando levar sua missão adiante num caminho bem longo. Buscando sua santidade. Quem sabe um dia?”

A mediunidade é o natural do homem. É a brecha que o permite divisar o que deve fazer para ser mais do que é. Bem utilizada, é canhão para o homem-bala. Mal utilizada, é pá de terra para o que se enterra vivo. Não é diferente de outros tantos dons que Deus nos concedeu. A todos nós, espíritas, católicos, evangélicos, umbadistas, ateus. Nossas mãos, nossos pés, nossas lágrimas, nosso suor. Todos dádivas de Deus. Todos condutores a Deus.

Chegará o dia em que veremos em tudo os Espíritos, não como nos filmes de terror, mas como no esplendor das cores que povoam o nascer do sol. Só não acho que devemos esperar esse dia para tentarmos enxergar o espírito de tudo. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Mediunidade: Exemplo vivo e claro (Parte II)


Nesta parte da entrevista que já começamos a abordar em outro post, Pedro, falando sobre sua mediunidade, faz referência a como se processa o fenômeno no dia-a-dia, as visões de almas comuns (não santos), as condições necessárias para que aconteça, e a ética de falar ou não o que lhe é revelado. Sigo comentando o que achar pertinente.

7. Revelações consoladoras que vinham da luz dourada do teto da igreja, com nome certo para a pessoa certa. 
  • Uma das grandes provas da veracidade do fenômeno mediúnico reside na espontaneidade e nos acertos das revelações. O acaso é definitivamente espontâneo, mas não acerta tanto assim em seu jogo de dados. Que talvez não seja um mundo espiritual que se revela, é algo a se considerar, todavia mais surpreendente que esses acontecimentos é o descaso com que trata a ciência oficial tudo o que gira em torno disso.


8. Por algum motivo “almas do purgatório” aparecem na igreja para rezar durante o terço. Mas, não só na igreja, nos quintais das casas, também aparecem. 
  • Ele fala de “almas do purgatório” que é como denomina os que nem são santos, nem anjos, nem demônios, mas apenas a alma dos falecidos comuns. Elas se apresentam não só na igreja, mas também no cotidiano, como a que viu no quintal da casa de ingleses que o acolhiam no intercâmbio, a tia falecida de um dos anfitriões. Em sua concepção, o mundo espiritual tem, no mínimo, três círculos: um céu, um inferno, um purgatório. Lugares mesmo, onde se pode andar, correr, pular, experienciar, para onde ele foi transportado certa vez. Para o Espiritismo, lugares no universo há vários, com diferentes características diretamente influenciadas pelos seus habitantes. Cidades ao infinito construídas por Espíritos, mais ou menos desenvolvidas, como as nossas aqui do nosso estreito círculo da percepção dos cinco sentidos. Onde o céu? Onde o inferno? Dentro de cada um, na consciência. Onde quer que se esteja, independente do lugar, podemos fazer de nossa vida céu ou inferno, o que se reflete para nosso exterior automaticamente. Daí, haver relato de cidades paradisíacas no mundo espiritual resultado do pensamento coletivo no bem, no belo, no útil, em Deus. Como o contrário. Anjos? Demônios? Não no sentido habitual. Todos os habitantes do universo são criados por Deus simples e ignorantes, marchando progressivamente para a sabedoria e para o amor. O bem natural característico dos anjos é uma conquista dos esforços no tempo. O mal natural dos demônios, escolhas erradas de um indivíduo que teima em não crescer. Mas, o tempo de se iluminar chega para todos. Pelo amor, pela dor. 


9. “Meu papel é de condutor, (...) sou instrumento, eu fico livre pro que o mundo espiritual quiser de mim.”
  • Chico Xavier não diria diferente.

10. O Espírito Santo o permite ver quando ele está em sintonia, e Pedro se cala quando acha que revelar não levaria a lugar nenhum. 
  • O que a mediunidade revela deve passar pelo crivo da razão. Não dizer qualquer verdade revela maturidade. Distinguir entre verdade e mentira, inteligência. Compreender o tempo da verdade, sabedoria.

Último bloco da entrevista com comentários, confira aqui.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis





Ao falar de Os Miseráveis todos devem suspirar pelo mocinho Jean Valjean ou torcer pela Cosette e seu destino. Na nossa mentalidade bipartida Deus e Demônio, Javert é o réprobo. Mas, sempre o olhei com inquietação. Que final!


No filme, é extremamente simbólico sua canção sobre as estrelas que determinam a hierarquia do mundo.  E ao final, perto do seu final, Javert escurece as estrelas. Já não servem mais de norte algum. O que fazer se tudo pode mudar? Como suportar a derrocada de seus valores mais caros que eram o esteio de todo a sua vida?


Peço que olhem Javert com mais cuidado, e mais carinho. Ele reside em todo indivíduo apaixonado.


Me perguntou certo dia minha esposa:


- E se tudo o que você acredita for mentira? Se os Espíritos não podem se comunicar? Se não podem reencarnar? Se mesmo não existirem, isto é, se a imortalidade for um engodo?


Resposta mais óbvia de todo apaixonado: 


- Mas não é mentira!

- E se for...


Submetido, então, a ditadura do “e se”, o meu coração bate como as últimas batidas do coração de Javert.


Não é que não possamos mudar nossas crenças, mas é que o extremo oposto nos torna pusilânimes. O que seria de toda e qualquer convicção se os seus adeptos cedessem à primeira dúvida? A dúvida deve ser acolhida, mas a busca pela certeza deve ser o próximo passo. E se um conjunto de evidências (nossas estrelas) apontarem para um norte, esse caminho deve ser seguido com coragem e dedicação a partir do mesmo instante que se alcança a fé. 


Todos têm fé. É impossível viver neste mundo sem a possuir. Fé em algo, qualquer coisa. Ainda que seja fé no que muda. Estes brigam contra aqueles que dizem que há uma ordem no fundo das coisas. Não importa. Fé, por todos os lados. Não fanatismo, por Deus, não! 


Fico com o materialista Sponville, quando tenta definir religião: “Conheci alguns crentes de verdade, cuja evidente superioridade, pelo menos em relação a mim, devia muito à sua fé para que eu me permitisse condená-la. A religião só é odiosa quando desemboca no ódio ou na violência. Nesse caso, já não é religião, e sim fanatismo.”


E tentando responder ao jogo infindo dos “e se” que vão minando o que me mantém vivo:


Se não o Espiritismo
Apenas Deus
Ainda que iracundo

Se não Deus
Pelo menos minha esposa
Ainda que distante

Se a separação
Sobram-me amigos
Quiçá os inimigos!

Se a indiferença
Volto à família
Pois sempre há o sangue

Mas se já exangue
Só me resta o abismo.




Javert!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Dons do Espírito Santo e Mediunidade




Adoro quando encontro fora do Espiritismo o que Allan Kardec encontrou para codificar o mesmo. Afinal, os fenômenos espíritas são de toda a história da humanidade, mas a doutrina tem data de nascimento, haja vista, 18 de abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos. Inaugurava-se, assim, no vocabulário mundial, as palavras Espiritismo, para designar a doutrina, e Espírita, para seus seguidores-estudiosos, entre outras tantas que completam nosso jargão. Nascia, junto com elas, uma forma completamente diferente de encarar o fenômeno.

Minha esposa me apresentou a entrevista de Pedro Siqueira, médium católico que prefere dizer ser agraciado com os “dons do Espírito Santo” ou, no máximo, paranormal, termo “mais neutro”. Seu discurso endossa em vários pontos o que o Espiritismo fala sobre o fenômeno mediúnico. Citei algumas ideias, transcrevi algumas falas e tomei a liberdade com algumas respostas para esclarecer vários pontos sobre o assunto. 

Claro que estamos lidando aqui com um exemplo isolado, mas Kardec estudou vários casos no intuito de tentar chegar a conclusões gerais, ou melhor, universais, que pudessem ser extrapoladas para todos os casos, como pretende todo exercício científico. 

Então, vejamos:

1. “Pedro conta isso com uma enorme simplicidade”, diz Gabi. “Pra mim era normal, era uma coisa que acontecia todo dia...”, ratifica Pedro. 
  • A mediunidade é algo natural. Como um relâmpago que cai ou como o Sol que nasce e morre dia após dia. Algumas pessoas tem o contato com o mundo espiritual de forma mais intensa, outras menos, mas todos temos uma ligação com este mundo que nos circunda. A concepção espírita do homem é que ele é um ser interexistencial, isto é, nossa consciência navega entre as percepções extra-sensoriais, próprias do corpo espiritual, e as sensoriais, próprias do corpo físico, como um marinheiro que ora está atento ao leme do barco, ora às ondas do mar. Demos, por convenção, para chamar médium apenas aqueles que tem a percepção mais intensa do mundo espiritual. 
2. Pedro via seres angelicais que o protegiam e seres demoníacos que o faziam chorar desde a infância. Um deles, um homem de traços finos e rosto angulado, vestido de túnica verde, face iluminada, era o seu anjo da guarda. 

  • O mundo espiritual e o material são um só e o mesmo mundo. Não são dimensões paralelas, mas imbricadas. É como reconhecer que a Terra e a Via-Láctea fazem parte do mesmo espaço. Nesse mundo único há milhares de habitantes, entre encarnados (que residem na carne) e desencarnados (que dela estão livres, ainda que temporariamente). Alguns bons, angelicais até, outros nem tanto, demoníacos, se muito cruéis. Nada muito diferente do que vemos por aqui.


3. A mãe do Pedrinho o proibia de ficar revelando os dons para as pessoas, porque começou a ver um aproveitamento constrangedor por parte delas.
  • Moisés, o primeiro libertador dos hebreus, também proibiu seu povo de lidar prosaicamente com a mediunidade. Não era uma condenação perpétua, era uma prudência justificável. Não é pecado o fenômeno em si, mas o uso que se faz dele. 


4. No início ia para médicos para se tratar das visões, dos terrores noturnos, nada encontrando. 
  • Não há nada, até hoje, que culpe o fenômeno mediúnico com evidência científica. Os portadores de transtorno mental médiuns são tão numerosos quanto os que não são. Dizia certa anedota inscrita em um hospício à antiga: “Nem todos os que são aqui estão!”. E, nos alerta o movimento anti-manicomial, nem todos os que estão aqui são.


5. Deus é pai de todos e Nossa Senhora é mãe da humanidade, independente da crença. “Se a pessoa tem uma vida que tem essa adoração por Deus (...), que tem atos de amor e caridade, é uma pessoa correta, é uma pessoa que se esforça pelo próximo, que se esforça em evoluir espiritualmente, eu acredito que essa pessoa vá para o céu, independente da religião dela.”
  • A opinião de Pedro Siqueira é lei para o Espiritismo. Nem a igreja, essa ou aquela, nem a ciência são caminhos exclusivos de salvação, só a caridade! Salvar-se de que? Essa é uma pergunta ótima e que não dá para falar aqui em rápidas palavras. Ainda abordarei esse assunto (ver o marcado Soteriologia).


6. “Minha missão é difundir essa amizade com Deus.” 
  • Sempre buscando deixar acessível a quem não crê em Deus essas ideias, eu reforço que a “amizade com Deus” está ligada a questão da espiritualidade. Ao contrário do que muitos pensam, espiritualidade não é igual a religião, mas a religião é uma das formas de espiritualidade. Particularmente na espiritualidade católica, segundo Pedro Siqueira, e também na espiritualidade espírita, a intimidade com Deus, ou com a ideia de Deus, nos faz ter menos pressa, menos apego ao que passa, mais paciência, mais sapiência de esperar, isto é, mais confiança na providência divina, que se manifesta com uma visão sempre otimista da história, sem, contudo, deixar de buscar, de tentar resolver, de trabalhar.
Não é preciso ver, ouvir, sentir a pressão na pele para se dizer médium. Praticamente toda intuição é mediúnica. A oração é um ato mediúnico. Falo aqui de uma mediunidade natural, que é aquela que nos permite entrar em conexão a qualquer momento com o que nos eleva acima da matéria. 

Estes indivíduos de mediunidade mais aguçada têm a divina missão de nos mostrar aquilo que deixamos passar despercebido pelo embotamento diário da correria infinda das coisas que nos tocam o sentido de forma mais imediata. Isso é revelação. Se parássemos para prestar atenção nas forças ocultas que movimentam nossa vida, dentro e fora de nós, teríamos mais consciência dessa realidade que transcende o óbvio cotidiano.

Comento os outros blocos da entrevista aqui e aqui. Por ora é só.