segunda-feira, 29 de maio de 2017

Quando acontece o milagre?



Você já se sentiu submerso em um mar de forças contra as quais parecia inútil lutar? Forças que ou queriam esmagar sua cabeça ou a dos que você amava, magnanimamente superiores a qualquer um? Bem, um dos nomes delas é mundo.

Consideramos ridícula a tradição judaica-cristã por "inventar" um deus para salvar o homem. Um deus que se manifesta em imagens redutoras na matéria, mas cuja real natureza transcende qualquer noção deste mundo. 

A verdade é que qualquer pensamento que queira apontar alguma solução para a aventura humana terá de recorrer a este artifício: inventar um deus. Aqui é a causa revolucionária, ali é a ciência, mais além é a pátria, acolá é a autonomia, bem mais acolá é a mãe-terra. 

O mundo é tão vasto e tão incognoscível que temos de colocar marcos para qualquer horizonte fora de nós a fim de termos alguma noção para onde andar. Do contrário, paralisia. 

O sentimento do homem no deserto, após dias vagando, sem água, sem comida,  sem qualquer sinal de abrigo: parar e reconhecer a enormidade do mundo. Ajoelhar-se, quedar-se à areia. Submergir. Entregar-se à unidade com o solo. Parar de resistir.

É aí, quando as defesas do homem estão expostas, que o tema de Deus aparece com esplendor. Ao contrário do que imaginam os céticos, isso não demonstra as convulsões de um homem querendo viver. A verdade de Deus, Aquele que É, surge imponente quando a vida do homem já não é mais. 

"Deus está morto!", berrava Zaratustra anunciando a vida do homem. O contrário ainda é mais verdadeiro: O homem está morto, vede Deus vivo! A sarça, símbolo da sequidão, arde e não se consome, símbolo da perpétua morte que não se consuma, mas vive para sempre. 

Quando acontece o milagre, então? Quando o homem está pronto para recebê-lo? Não. Quando o homem está morto. Lázaro é o ápice do Evangelho. 

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