sábado, 7 de dezembro de 2013

Ao principiante espírita e afins – Parte II



Comecei, na parte I desse marcador, definindo o Espiritismo pela sua origem e logo depois passei para alguns princípios da doutrina. É necessário que eu tente falar um pouco mais sobre o que ele é antes de passar para os dois princípios sobre os quais prometi falar: a pluralidade dos mundos habitados e dos espíritos na natureza.

O Espiritismo nasce filosofia com uma forma diferente de construir seu corpo doutrinário. Pegando pensadores da época, vemos Descartes se inclinando na dúvida sistemática para construir, através da sua substância pensante (o tal do cogito), um método que, enfim, pudesse reconstruir o edifício da ciência sem arestas para os mortais que não possuíam acesso a ciência revelada dos sacerdotes. Espinosa e Leibniz se utilizam dessa razão possante libertada pelo mestre para construírem grandes sistemas filosóficos que deduziam sobre a origem e a finalidade das coisas, e, consequentemente, o alento para os males físicos e metafísicos. Todos os grandes filósofos construíram seus sistemas com esse exercício vigoroso de decorticar a realidade até o que imaginavam ser o certo. Mas, a filosofia espírita não surge da cabeça de um homem só. É fundada em diálogos. Vide O Livro dos Espíritos.


Sócrates já fazia isso? Em parte. Difícil enxergar Sócrates fora das peças de Platão. Por outro lado, essa história que Sócrates dizia de nada saber é meio conversa fiada. Ele tinha uma astúcia danada de conduzir as pessoas por caminhos de pensar certo segundo o que ele entendia ser o mais certo. Kardec vai descobrindo a verdade dos Espíritos. Com eles dialoga através dos médiuns, e com as respostas deles vai preenchendo a carne da doutrina. É o que se chama hoje de construção coletiva de conhecimento.


Ciência do pós-morte, Kardec dizia. Porque aplicou todo um rigoroso método de análise sobre os fenômenos mediúnicos para decifrá-los. Fazia
até mesmo circular as experiências em um “Jornal de Estudos Psicológicos”, a Revista Espírita. Vide todos os 12 volumes da Revista Espírita e O Livro dos Médiuns.

Religião? Kardec mais ou menos se calou sobre isso até1868, quando pronuncia o clássico discurso em comemoração ao dia dos mortos, reproduzido na Revista Espírita do mês de dezembro. Mas, bem antes já havia deixado uma enorme dica com o lançamento de O Evangelho Segundo o Espiritismo, aliando Espiritismo e mensagem moral do cristianismo indelevelmente.


- Uma coisa que é Filosofia, Ciência e Religião só pode não ser nada! – diz o crítico.


Eu diria que uma ciência sem filosofia é superficial. Uma filosofia sem ciência é frágil. E as duas sem buscar chegar onde a religião discursa, sobre o sentido dos sentidos de tudo, são vãs. Eu estranhei muito, quando me vi ilhado na faculdade de medicina, presenciando o funcionamento da ciência. Desde muito novo acostumado a tentar ver a vida nos três aspectos, sentia-me com a inteligência amputada e o coração vazando ao ver uma ciência alheia aos assuntos do espírito.


Filosofia, Ciência e Religião são ordens diferentes de discursos, tudo bem! Mas não significa que se repelem. Completam-se. Nem todo mundo consegue chegar a desenvolver um corpo doutrinário que contemple essas três zonas. Paciência. Kardec deu um grande avanço nesse aspecto.



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