sábado, 9 de março de 2013

A contribuição de Nietzsche para o Espiritismo




Esse assunto é extremamente polêmico. Nunca vi abordagem nenhuma a respeito. Pelo contrário, só vejo ataques contra o filósofo do martelo. Nietzsche mesmo se considerava o imoralista, mas o Espiritismo tem um fim eminentemente moral; se considerava o anticristo, mas o Espiritismo se considera filho do Cristianismo. 

Então, em que lamaçal eu vou querer entrar?

A maior contribuição que Nietzsche legou ao pensamento humano foi a desconstrução dos ídolos. Para ele, ídolos eram todas as ideologias que colocavam esse mundo daqui como inferior ao “mundo de lá”, as coisas de agora como inferiores a de outrora. Incluía nessa iconoclastia as doutrinas de promessas de um mundo melhor, haja vista, comunismo e anarquismo. Todas as profecias levavam a se querer mais do que se tem, e a amar menos o que se é.

Eis a denúncia mais importante e norteadora de toda a filosofia nietzscheana: a relativização da nossa vida de agora por qualquer coisa do além. 

Mas, o Espiritismo é tudo isso: doutrina do amanhã, do futuro, da vida do além! O martelo de Nietzsche acertaria a nossa doutrina em cheio. 

Não. Aí é que está! Dentro da nossa doutrina há as promessas, mas há também os chamados para viver a vida em abundância desde já. Pululam de mensagens dos Espíritos o convite para admirar a obra do Criador que nos cerca desde o presente momento. Viver as pequenas felicidades desse mundo, mas vivê-las de tal modo que possamos santificá-las. Não é nos exortar para uma vida de sacrifício, mas para um deleitamento da riqueza de nosso pai: somos os herdeiros da Terra. A vida transborda em todos os cantos do universo. Espuma o cosmos em arrebatadora imponência!

Até a própria reencarnação pode ser vista como parte desse projeto de viver tudo aqui em baixo em plenitude. A morte nos arremessa para o lado de lá? O renascimento nos devolve para o lado de cá! E, no vaivém desse mar existencial, nos revoltamos contra as ondas em que espiralamos, até que possamos estar entregues a graça de pairar sobre o fluxo da vida. Serenidade!

Então, Nietzsche faz uma denúncia para as doutrinas do amanhã que é importante estarmos atentos, sob pena de estarmos deixando manifestar a doença de nossa alma, a decrepitude do nosso espírito, em uma palavra, a falta de vontade de viver.

Mas, o que acontece com as mil dores que nos circundam nos seres que amamos? Como amar os nossos próximos, não os distante, mas aqueles mais íntimos, sem sentir o peso do sofrimento que os perturba? E mesmo os próximos desconhecidos: como não se inquietar com a fome dos africanos, com a ossada de crianças famintas, com a ferida aberta de países em guerra? Se entregar perpetuamente a fruição do prazer do momento presente não seria cinismo, indiferença mórbida diante dos semelhantes que são consumidos nas injustiças sociais? 

Eis o outro lado da moeda para cuja efígie Nietzsche olhava com sincero nojo. Mas que nós, os trabalhadores por um mundo novo, olhamos com desejo do melhor:

- Não podemos amar plenamente, enquanto não amarmos todos unidos, de uma vez só!

6 comentários:

  1. Allan hoje postei no facebook um pensamento de que eu penso que de alguma forma Nietzsche e Kardec ao seus respectivos modos, ambos disseram que um dia todo homem será um "Super homem".
    Creio que Nietzsche também contribuiu e contribui para a evolução do homem. Como cada um de nós na verdade.

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    1. É Gracio. Fazer a comparação destes dois titãs ainda é uma tarefa cheia de melindres. É preciso esmiuçar bem de onde cada um fala, que concepção de ser SUPER HOMEM é essa. O que cada um pretende ultrapassar no Homem. Talvez um melhor caminho para se chegar a algum diálogo seja estudando o precursor de Nietzsche: Espinosa. Ali vemos muitas estrelas para o céu que vislumbramos.

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  2. Maravilhoso...pensei sobre as tensões e confluencias de Nietzsche e doutrina espírita. Fui dar um "Google" e achei o teu texto. Parabéns. Nestas genialidade
    sobre ao ahumanosempre vai haver algo que se complementam. Sim, há que se ter cuidado para não despersonalizar nenhum dos dois, mas sim, aonde há sincera confluência podemos descobrir a potência criadora do agora. É como se é melhor deixar o deus (Boss) com o seu trabalho e, desta forma, podemos gozar da simples e complexa tarefa de sermos apenas humanos, vivendo a vida como presente e com a intensidade merecida. Sem tal vibração ela deixaria de ser o aprendizado que pode ser. Passamos batidos por existências mirando sempre à frente e não no aqui agora. Isto é muito precioso. Parabéns.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olá!
    Não sei se vejo dessa forma. Me parece que a filosofia de Nietzsche mais acerta em cheio o espiritismo do que o ajuda. Afinal, o Crepúsculo dos Ídolos e A Gaia Ciência identificam ao mesmo tempo em que causam uma "morte de Deus": não apenas uma suposta falência da ideia de um Deus mas também, e principalmente, uma suposta falência da metafísica, ou seja, uma falência nas ideias de Verdade na ciência, de Belo na arte, de Bem Comum na política, de Sentido na história e etc. Todas essas categorias, me parece evidente, são muito caras ao espiritismo. Acho que para o autor em questão o espiritismo continuaria, como todo projeto metafísico, sendo um flerte com o "nada", uma espécie de niilismo, visto que entende a morte como o fim de um cárcere da alma, atribui maior valor à alma do que ao corpo.
    Acho que há muita dissonância entre ele e o espiritismo. Nietszche, ao mesmo tempo que desqualifica, como você disse, ideologias vazias, também aponta para uma falência da ideia de verdade na ciência, tão cara ao espiritismo.

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  5. Muito bom seu texto parabéns,o Espiritismo mostra em seus parâmetros uma doutrina que também está em cada um de nós,com isso por mais que Nietszche fosse possivelmente ateu e negava bastante a questão moral,ele não deixou de fazer verdadeiras reflexões espíritas no sentido de se automelhorar-se o ser humano.Obrigado.Que Deus abençoe a todos ♥️

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